sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vamos orar, porque torcer tá ruim

Para toda a situação há um espertinho, ou melhor, um filho da puta para tirar proveito. Inescrupuloso, mau e confiante, o canalha, que se auto denomina empreendedor, um homem de negócios, não perde a oportunidade para, em nome das cifras, destruir sonhos alheios na edificação do próprio castelo. Tem gente de todo tipo, e estas aberrações que chamam de “trabalho” aparecem em cada horinha. As funerárias, por exemplo, ficam plantadas ao lado do necrotério no aguardo de mais um cliente gelado. Enquanto uma família chora a perda de um ente querido, a secretária da Santa Luzia (aquela mesma do slogan: sua morte nossa alegria), de voz teatral e compadecida, tenta vender a cama do nosso sono eterno. Perdão irmão paranista, tudo isso foi para dizer que nessa semana esse tipo de bastardo fui eu.

Arrependido, me ajoelho e confesso, em nome do senhor Jesus. Após a derrota para o América do Rio Grande do Norte eu pensei apenas em mim, larguei tudo e vendi minha pobre alma, que já não valia muita coisa, ao Diabo. Vi no desespero de uma nação vermelha, azul e branca a chance de faturar uma graninha, enxerguei o que os marqueteiros chamam de: filão de mercado. Quando pessoas desesperadas tomaram o entorno da Vila Capanema, com placas que anunciavam o fim do mundo em forma de Série C, abri uma garagem velha de minha casa. No ambiente, que passei a chamar de templo, pus umas cadeiras de boteco mesmo, uma mesinha de altar, me intitulei Bispo e comecei a pregar. Exatamente como fazem em qualquer esquina do país.

Acreditem ou não servos do Senhor, aos poucos arrebanhei minhas ovelhas, conquistei fiéis e então nascia a IMP, Igreja do Milagre Paranista. Em meio aos berros e a interação de toda aquela lã Tricolor, um aleluia cá e outro acolá, dei o meu testemunho inaugural de uma primeira “conversa” com Deus. Como um falso profeta anunciei a vinda de um messias, bem nos moldes da bíblia, cabeludo, barbudo e de nome com inicial “J”. Ludibriei aquele povo cego pela tristeza de ver seu mundo e sua história na sarjeta. A maioria do público indagava na adoração do Espírito Santo: “Será que Jesus está voltando Bispo?”, outros já falavam em Jeová, e lá do canto, bêbado, maltrapilho e desenganado o Serjão Bello gritou “é o Genésio que tá de volta, amanhã tá na minha coluna”. Como tudo o que um pseudo líder religioso fala ao seu rebanho é lei, eu anunciei: Josiel está de volta! E a loucura se instaurou em forma de língua dos anjos e uma gentarada se debatendo ao chão. Coisa trash, tipo histeria em massa ou exorcismo. Sai capeta!

Meu “show” tomou tamanha proporção que já me causava medo. Um tal de Edir começou assim e não parou mais. Mas eu não sabia porra nenhuma da bíblia e sempre fui bastante cético quanto às historinhas fascinantes elaboradas por grandes pensadores do Concílio de Nicéia. Para continuar com a minha farsa, arrumei uns cúmplices e formei a alta cúpula de minha igreja. No mesmo dia o Pastor Aramis Tissot estava comigo ministrando a palavra divina. Como um verdadeiro mestre, e sábio que é, Tissot lembrou a parábola do semeador e mandou os pagãos plantarem batatas. O filho pródigo misturado ao Caim que matou Abel, também foi citado nas orações. “Não tem tu vai tu mesmo, Pimpão”, disse Aramis, com as mãos erguidas aos céus.

O espetáculo circense armado pelo novo Pastor e por mim estava chegando ao fim. Durante a breve consideração final do meu companheiro de louvor, bastante inflamado, ele distribuiu carapuças aos carrascos que querem a cabeça do povo Tricolor e foi embora do santuário esbravejando. Eu, após recolher o dízimo, é claro, voltei ao meu ceticismo habitual e, olhando para os paranistas como se fossem palhaços, pedi que continuassem com fé na vinda de um Moisés, e seu cajado, para separar nosso caminho do Mar Vermelho Sangue da Série C. Na verdade a solução, se é que ela realmente existe, está nas mãos de Noé. Talvez ele possa consertar nossa barca furada e livrar nosso bando de animais desse dilúvio de lágrimas e vergonha. Se não for assim o jeito é aguardar a fictícia “justiça divina” que só se ampara em uma lei: salve-se quem puder, digo, quem merecer! Se para torcer tá ruim, então oremos, e que a Vila do Povo não passe a se chamar Sodoma e Gomorra.


Você pode entrar em contato com este cronista via MSN/e-mail: mark.balboa@hotmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. . Vamos lá nação tricolor, mande suas críticas e sugestões de assuntos a serem “cronicados”!

Um grande abraço.

Leia esta e outras no www.paranistas.com.br

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